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Pai, pra que te quero?

Por Débora C. Dickel

Se com um bebê nasce uma mãe, o mesmo não acontece com o pai. Para ser pai, não basta ser genitor, não basta enlaçar-se e deixar-se capturar pelo bebê: há de se ocupar esse lugar. E que lugar é esse, o de um pai? Certamente não há pretensão de que o pai ocupe um lugar de perfeição: o pai é justamente aquele que denota a dureza com que a vida vai nos acertar em cheio, e como que em um preparo ele nos oferece isso já de antemão; é um presente que nos dá. Um pai só exerce sua função se impõe limites, se nos frustra, se nos barra. E da mesma maneira, só o é se não é perfeito: ele mesmo precisa ser barrado, e só vai poder nos transmitir algo se ele puder se haver com aquilo que lhe é faltoso.

Um pai, para que sustente seu lugar, também é afeto, também é ternura, também é fragilidade. Porque para ser limite não é necessária nem suficiente a rigidez incondicional. Um porto seguro também faz fronteira entre o que é terra e o que é mar, assim como um cobertor quentinho faz limite entre a nossa pele e o frio de fora.

Já nos dizia Freud que a mãe é o primeiro objeto de amor de uma criança. Mas então, para que precisamos do pai? Se a mãe é quem primeiro amamos, o pai é com quem nos salvamos na identificação: ele nos permite sair de um colo seguro e partir para o mundo buscar o que é nosso. Para que possamos crescer, o pai nos oferta uma promessa, e por ser promessa ela nunca está aqui: está mais à frente, é preciso seguir, é preciso andar, é preciso ir atrás.

O tempo do desfralde

Por Débora C. Dickel

O momento da chegada dos dias mais quentes começa a despertar nas mães dos pequenos a vontade da realização do desfralde pela praticidade que o calor oferece para esse momento. No entanto, é importante termos cuidado para que essa conquista não seja exigida mais cedo do que a criança consegue realizá-la – seja em casa, seja na escola. É necessário levar em consideração não apenas nosso desejo por uma maior autonomia da criança com seus hábitos de higiene, ainda que seja fundamental que os pais estejam disponíveis a isso para que o desfralde seja bem sucedido. Ainda assim, o mais importante será perceber se a criança tem as condições para responder àquilo que lhe está sendo pedido.

 

O controle dos esfíncteres, tanto para a realização do “xixi” quanto do “cocô” para a criança, tem a ver com um tempo de maturação orgânica, que se inicia entre os dois anos e dois anos e meio. Isso não significa que o desfralde será imediato nessa idade, podendo variar a cada criança. Assim, devemos ter cuidado, e atentar para os sinais que a própria criança possa expressar, demonstrando consciência sobre seu corpo, aparentando desconforto com relação à fralda e podendo anunciar seja quando está suja ou quando quer fazer suas necessidades.

 

Quando a criança começa a apresentar uma percepção acerca das suas necessidades fisiológicas, ela naturalmente passará a ter maior interesse pelo banheiro e por sua função. Trata-se de aproveitar o momento propício do desfralde a partir das próprias percepções da criança. A criança irá sinalizar qual será o momento ideal para ser convocada à retirada das fraldas, sem que esse processo precise ser uma obrigação sofrida, nem uma negociação em troca de prêmios, e sim um crescimento prazeroso também para ela.

A chegada do irmãozinho

Por Débora C. Dickel

Muitos pais se preocupam com o momento ideal para se ter o próximo filho, temerosos do que isso produzirá na relação com o filho mais velho. Em especial quando se tem um filho único, esse poderá ser um momento bastante delicado para uma criança que não está acostumada a dividir o afeto parental e o seu próprio espaço íntimo com outra criança. Ainda assim, o desejo de um segundo (ou terceiro) filho não deverá ser adiado ou abdicado em prol de preservar seus filhos de algum sofrimento que esse momento poderá produzir. É possível lidar com as mudanças para que elas não produzam um sofrimento tão grande, e isso permite, também, que a criança aprenda a lidar melhor com suas próprias emoções.

A iminência do nascimento de um bebê se mostra, por vezes, ser um momento de fato bastante difícil para o filho que já tinha seu lugar de certa forma garantido. Poderá significar uma perda importante para a criança, e por isso seu sofrimento não deve ser desmerecido, sendo importante que a criança passe pela elaboração dessa perda para poder encontrar outros lugares que estarão disponíveis para ela ocupar nessa família, além de descobrir as boas experiências que virão junto com a chegada desse irmão.

Para a criança que precisa exercer seu lugar de irmão mais velho, seu sofrimento tem a ver com a perda das vantagens de se estar no lugar de pequeno/bebê da família ou ainda, também, de único filho, aquele que recebe toda a atenção disponível. Ainda que seja possível convidar a criança a curtir esse momento da chegada de um novo irmão, em muitas situações a rejeição do bebê pelo irmão é inevitável. Por vezes a criança fica agressiva, querendo bater, acertar a barriga da mãe ou colocar em risco o bebê; outras vezes a criança se apresenta regressiva, querendo fazer como o bebê faz e competir com o irmão, ainda que estas não sejam atitudes conscientes ou propositais.

 

É fundamental que se dê espaço para a criança e que se atribua importância para esse sofrimento, sem que os próprios pais entrem em conflito com o filho, podendo transmitir a segurança do seu afeto e o entendimento de que para a criança sempre haverá espaço nessa família. Para ajudar a criança a lidar com seus conflitos e realizar o luto da perda de seu antigo lugar, o adulto poderá dar valor a outros lugares que a criança virá a ocupar como irmão “grande”, não autorizando as pequenas regressões, mas incentivando o que poderá ensinar ao pequeno bebê que nada sabe ainda. Poder escutar a criança e oferecer-lhe outras possibilidades de ser nessa família mostra que crescer também pode ser bom e que tem valor para os adultos.

Tecnologia para quem?

Por Débora C. Dickel

Tablets, computadores, celulares. Cada vez mais difundida, a tecnologia toma conta de nossas vidas assumindo um papel central na forma como organizamos nossa rotina e até mesmo em como nos relacionamos com outras pessoas. A pergunta surge nas divergentes opiniões sobre como lidar com essa exposição quando se trata do desenvolvimento das crianças.

Hoje, há um consenso no meio da saúde de que o contato com os meios eletrônicos não deve ser oferecido, de maneira geral, para crianças no período da primeira infância (primeiros três anos de vida), em especial nos primeiros 18 meses do desenvolvimento do bebê. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entende que o contato das crianças pequenas com os meios digitais pode atrapalhar o seu desenvolvimento em diferentes aspectos. Ainda, a indicação acerca dos dispositivos eletrônicos é que o tempo de uso diário seja proporcional à idade e ao tempo do desenvolvimento da criança ou do adolescente, conforme Manual de Orientações da SBP sobre "Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital".

Diversos autores defendem, porém, que as crianças não deveriam ser expostas a essas tecnologias antes dos 4 anos. A Psicanalista Julieta Jerusalinsky atenta para a impossibilidade dos meios eletrônicos substituírem as relações humanas no que tange a construção do laço com o outro, em seu texto publicado no Estadão (veja o texto na íntegra). Assim, para além das consequências sobre os aspectos instrumentais do desenvolvimento da criança (atraso na fala e na psicomotricidade, por exemplo), há de se atentar para as consequências psíquicas da exposição dos pequenos às telas, o que pode produzir não apenas crianças com grandes dificuldades de socialização, mas também crianças incapazes de entrar em relação com o outro.

É necessário que possamos entender os efeitos dos dispositivos eletrônicos para que possamos fazer escolhas mais saudáveis no que diz respeito à inserção das crianças no mundo digital. Ainda que pareça muito trabalhoso dar conta das crianças sem fazer uso desses dispositivos no dia-a-dia, os ganhos para o desenvolvimento dos pequenos se mostram exponencialmente maiores quando sustentados na relação com outra pessoa.

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